sexta-feira, 11 de março de 2016

Mada, a filantropa

Hoje ao pequeno almoço, a falar das amigas da escola e das brincadeiras e dramas existenciais das amigas da escola: Sabes, mãe, a X diz que eu sou a sua melhor amiga. E que gosta de mim porque eu sou filantropa.

E foi isto.

(Descobri entretanto que andaram a ler na escola "Hipólito, o filantropo")

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Coisas da Quaresma que começou ontem

Quaresma, tempo de partilha, renúncia, recolhimento, tudo conceitos um pouco difíceis de explicar, mas ontem conversámos sobre isso à noite. E o que poderíamos nós fazer de diferente nestes 40 dias até à Páscoa? Algo de bom para nós, para eles, para os outros? Uma coisa que nos obrigasse também a dar um pouco de nós. E, de preferência, que perdure para o futuro. Pensaram, pensaram, e eis o resultado:

Madalena – pôr sempre a mesa aos fins-de-semana. E sozinha.

Pedrinho – dar muitos beijinhos à mamã todos os dias. E também à Madalena (embora ela às vezes não queira) e ao pai.

Mamã – contar até dez de cada vez que estiver quase a zangar-se (seja com eles, seja com outras pessoas)

Pai – não temos autorização para revelar, mas também participou.


[a encerrar a conversa: mãe, então se eu não puser a mesa tu não te vais zangar, não é?]

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Carta ao Pai Natal

Reparem na letra, tão bonita. E erros, zero. É Natal, por isso desculpem lá a demonstração do meu estado de mãe babada e cheia de orgulho na filha. Aqui está, pois, a bela carta ao Pai Natal escrita por dona Madalena depois de um aturado inquérito à família. A ideia inicial era que cada um escolhesse três coisas, mas descambou um bocadinho. Os dois acharam melhor dar várias hipóteses ao Pai Natal, não fosse alguma coisa correr mal. O Pai Natal que, já se sabe, é o avô Manuel. Mas só o que aparece em casa dos avós no Alentejo, que o outro, o verdadeiro, garante o Pedrinho que continua a cruzar os céus com o seu trenó e as suas renas.

[A publicidade dos canais infantis é tramada...]



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Em Viena

Quatro dias os dois, numa cidade desconhecida, um mapa e um guia na mão, museus, jardins, ruas, lojas, cafés com bolos de reis e eu a sentir-me uma princesa, não digo rainha que me faltava por lá a prole. Este ano foi assim, em Viena, na Áustria, e foi muito bom. Uma viagem a dois pela primeira vez em sete anos, mas com a decisão de lá voltar com eles, porque na verdade é muito bom viajar a quatro e, apesar de a dois haver mais tempo para o namoro, sobra-me uma pontinha de tristeza por não os levar comigo.

Num dos passeios, uma passagem por  Hauptbahnhof, uma gigantesca estação de comboios onde se juntam e esperam refugiados sírios. Não sei há quanto tempo lá estão e são, seguramente, muito menos do que em Setembro ou Outubro, quando as Famíliascomo as Nossas lá foram e trouxeram uma família para Portugal. Mas continuam lá, a dormir no chão da estação, crianças pequeninas a correr por ali, rapazes sozinhos de mochila às costas e telemóvel na mão, famílias na fila na zona da alimentação, onde voluntários distribuem fatias de pão, fiambre e fruta. À espera de um bilhete para um futuro que demora em chegar.

Saímos dali rapidamente. Porque não tínhamos grande forma de ajudar, embora nos apetecesse muito, e porque não queríamos que se sentissem alvos da nossa curiosidade. Saí com um aperto no peito. Apetecia-me falar com eles, ouvir as suas histórias, aplaudir a sua coragem e encorajá-los um bocadinho, mas na verdade o que eles precisam agora – além de que os senhores que mandam na UE se decidam a despachar, em vez de passarem o tempo com conversetas – é de protecção para o frio que aí vem. Roupas quentes e, sobretudo, sacos-cama.

Entregámos a Mifi da Mada e o carrinho do Pedro a dois miúdos que corriam por ali e saímos com o coração apertadinho, a pensar neles e a pensar que podíamos ser nós, que podiam ser os nossos filhos a correr numa estação de comboios, sem uma casa e sem um porto de abrigo.

[As Famílias como as Nossas vão voltar a meter-se à estrada em direcção à Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria e estão a fazer uma angariação de fundos e uma campanha de recolha de donativos. Uma ajuda pequena (eles são tantos, e precisam de tanto…), mas uma ajuda. ]


[A foto é da Visão, que fez belos trabalhos jornalísticos em Viena]

domingo, 11 de outubro de 2015

Uma bela manhã de Domingo

Domingo. Passa pouco das dez e os miúdos estão a brincar com os amigos em casa dos vizinhos. O pai saiu para fazer o seu exercício e eu estou sozinha em casa. A manhã à minha frente, só para mim. Ora deixa cá ver onde é que vou aproveitar este tempo precioso. Talvez possa arrumar as camas e os quartos. E depois podia pôr em orem algumas gavetas de roupa de Verão. Humm, não me apetece muito. Se calhar começo pela arrecadação, que nós combinámos que hoje era, finalmente, o dia para lhe dar uma volta. Ou talvez possa antes fazer um bolo, que é sempre uma coisa relaxante para mim. Ah, e tenho uma meias para dobrar também. Bom, se calhar vou é sentar-me no meu sofá, a ler um pouco do livro que comecei ontem, do Mário Vargas Llosa, de que estou a gostar tanto. Sim, é isso, que vou fazer. É uma óptima ideia, embora me sinta um bocadinho culpada. Ups, lá está o telefone a tocar, quem será. Pois. é a vizinha a avisar que Pedro acabou de vomitar no meio da sua sala. E que é melhor ir buscá-lo.

E foi assim que se e acabaram as dúvidas. O resto da manhã foi passada a dar banho a um miúdo mal cheiroso e a jogar damas e dominó de letras com ele, a ver se se distraia e não lhe dava para vomitar novamente.

E assim se passou a minha manhã de Domingo.
Pelo menos já não restam sinais de enjoos.

domingo, 20 de setembro de 2015

Fim de férias

Gosto tanto de os ver a brincar juntos. Hoje a casa é deles. Inventaram uma história de mistério, terrível, cheia de piratas e de pistas para encontrar e lá andam os dois, mergulhados numa aventura assustadora pela "terra do mapa" (não me perguntem onde é). Foi assim durante quase todo o tempo, nestas belas férias de Verão. Zangaram-se de vez em quando, claro, quase sempre por causa do comando da televisão, ou porque ele insiste em cantar mal as músicas da Violetta e ela não gosta, ou porque ele, coitado, já não aguenta mais músicas da Violetta. Zangaram-se, mas por pouco tempo, sempre cúmplices, sempre a unirem-se contra nós, os pais, quando alguma coisa corre mal a algum.

Amanhã regressam à escola. À escola a sério, com a Ruca e com a Albertina, cheia de coisa novas pela frente. Os livros estão prontos na mochila, os cadernos, as garrafas para a água, a roupa para mudar, os chapéus para o recreio. Ela acordou-me às 8:30 para vir tratar do que faltava (ele nem por isso) e agora está tudo preparado, junto da porta da entrada.

Foi um Verão comprido e Agosto um belo mês, três semanas entre o Alentejo e a casa mini-minorca de Cabanas onde o Pedro este ano conquistou uma cama só para ele que o deixou todo orgulhoso. Voltámos a encontrar a Beatriz, mais a Luisa e o Paulo, e as duas amigas, que só estão juntas duas semanas por ano, entenderam-se tão bem como sempre. Preguiçámos na relva e na piscina, depois de manhãs compridas na praia, e mal pegámos no carro, a não ser para a inevitável travessia até Espanha para jantar e comprar caramelos ou para visitar as salinas e (tentar) ver os flamingos.

Foi também o Verão em que a Madalena descobriu que gosta de ler livros na praia, em que ela e o Pai se meterem numa perigosa aventura até ao insuflável no meio do mar, em que Pedro se tornou especialista em mergulhos para a piscina e em que os dois se aventuraram (quase) sem medo em compridos banhos no mar. E foi o Verão dos jogos de xadrez e de dominó (com o avô Manel) e de uno.

Sinto falta de viajar, de chegar a uma cidade desconhecida e de a calcorrear, de mapa na mão, sem destino certo. E, no entanto, estas férias de Verão a quatro são tão boas, tão boas, que atenuam essas saudades. Para o ano é que é. Pedrinho e Madalena estão a ficar crescidos e autónomos e prontinhos, prontinhos para viajar sem stresses.

Madalena, o que gostaste mais nestas férias? "Da viagem de barco até à Ilha de Tavira". E tu, Pedro? "Foi do mesmo da Madalena. E da praia".

E do que gostaram menos? "Não sei, não me ocorre nada", diz ela, a palavra certa no momento certo. E tu, Pedrinho? "Não lembro-me".

sábado, 29 de agosto de 2015

Pedrinho e o nascimento do mundo

- Pedrinho, gostas de mim?
- Sim.
- Muito?
- Muito.
- Muito, muito, muito?
- Muuuiiitoooo.
- Até onde?
- Daqui até .... Deus. Podia dizer até aos macacos, mas digo até Deus, que é mais, não é, mãe? Era Deus, depois os dinossauros, depois morreram e vieram os macacos e os macacos transformaram-se nos homens, e foi assim.

E foi assim. Tudo da lavra dele nos seus belos cinco anos. E foi a melhor resposta de sempre ao meu jogo preferido de mimalhice, muita mimalhice.